São Pedro em Roma
Artigo traduzido por Raimundo Santos
Original em inglês: Peter's Rome Residency
Leia mais sobre a Primazia de São Pedro aqui: Português: A Primazia de Pedro; Inglês: Primacy of Peter
Uma tática frequentemente utilizada por alguns não-Católicos, desejosos em não aceitar a doutrina da Primazia Petrina, é alegar que São Pedro nunca esteve em Roma. Se ele nunca esteve em Roma, então ele não poderia ter sido o Bispo de Roma e, assim, não teria sido o primeiro papa.
Para que tal alegação de que a doutrina da Primazia Petrina é falsa e que o papa não tem privilégios especiais, responsabilidades e autoridade, duas coisas teriam que ser verdadeiras: primeiro, que Pedro nunca esteve em Roma e, segundo, que isso realmente comprove que a doutrina da Primazia Petrina é falsa.
Embora seja fácil provar que Pedro esteve em Roma, e que, de fato, ele morreu lá e foi considerado o Bispo de Roma, tal comprovação não deveria ser o primeiro passo em refutar a alegação ao contrário. O que se deveria fazer primeiro, seria pedir ao refutador que provasse que Pedro nunca esteve em Roma, comprovando-se assim, que o papado foi inventado.
Principalmente em Mateus, 16:18, e em várias outras passagens da bíblia, existem muitas fundamentações da doutrina da Primazia Petrina, e o fato de que São Pedro esteve em Roma não é a razão pela qual os Católicos acreditam que ele foi o primeiro papa. São Paulo esteve em Roma, e também São Marcos, o Evangelista - mas nenhum destes homens é considerado o primeiro papa, e nem tampouco papa.
O que importa se Pedro esteve em Roma? Isso não muda o fato de que o sucessor de Pedro é o papa, e o papa tem autoridade e responsabilidades. Mesmo se São Pedro não fosse o primeiro Bispo de Roma, ele foi o homem sobre quem Cristo edificou Sua Igreja, sendo reconhecido tanto nas Escrituras quanto fora delas. O ofício do papa não é meramente dependente do fato de São Pedro ter estado em Roma.
Mesmo assim, o papado existe, ele foi estabelecido por Cristo durante Sua vida, muito antes de Pedro ter estado em Roma. Deve ter havido um período de alguns anos em que o papado não teve conexão com Roma.
Este pensamento é comum entre os que negam o papado - muitos daqueles que se opõem à doutrina da Primazia Petrina buscarão desprezar qualquer que seja a evidência, na tentativa de negar toda a doutrina. Este pensamento ignora a maneira como deveríamos olhar para a bíblia e o Cristianismo - como plenamente unidos. Mas este pode freqüentemente parecer um método muito eficaz de atacar a doutrina Católica e, assim, deve-se estar sempre pronto para se perguntar (e também ao seu contestador): "Realmente importa se esta evidência, em particular, não é verdadeira, quando tudo o mais é?"
Mas, quanto à residência de Pedro em Roma, há vasta evidência que aponta para a sua presença em Roma e o seu martírio lá. Caso seu oponente não se convença do seu argumento de que a presença de Pedro em Roma é irrelevante, você poderá demonstrar que Pedro, de fato, esteve em Roma.
O argumento normalmente utilizada por não-Católicos é que "a bíblia nunca diz que Pedro foi para Roma". Isto é verdade - a bíblia nunca diz explicitamente que Pedro foi para Roma. Entretanto, como um apologista Católico, você deveria ser capaz de explicar que a doutrina da sola scriptura é falsa e que algo não precisa estar na bíblia para que seja verdadeiro. Também, nunca diz na bíblia que Pedro não esteve em Roma – assim, este silêncio não é exatamente conclusivo.
Entretanto, há evidência bíblica - ainda que não seja explícita - que certamente sugere que Pedro esteve em Roma. I Pedro, 5:13, diz: "A igreja escolhida de Babilônia saúda-vos." Aqui, o termo Babilônia é usada no lugar de Roma. Ele é utilizado assim muitas vezes em obras tais como, Oráculos Sibyllinos (5:159f), O Apocalipse de Baruque (2:1), e Esdras (3:1). Eusébio Pamfílius, em Crônicas, escrita aproximadamente no ano 303 da Era Cristã, "diz que a primeira epístola de Pedro, em que ele menciona Marcos, foi escrita na própria Roma; e que o próprio Pedro mencionou, ao se referir figurativamente à Roma como a antiga Babilônia."
No Apocalipse, lemos: "Outro anjo seguiu-o, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, por ter dado de beber a todas as nações do vinho de sua imundície desenfreada." (Apocalipse, 14:8). "A grande cidade foi dividida em três partes, e as cidades das nações caíram, e Deus lembrou-se da grande Babilônia, para lhe dar de beber o cálice do vinho de sua ira ardente." Apocalipse, 16:19. "Na sua fronte estava escrito um nome simbólico: Babilônia, a Grande, a mãe da prostituição e das abominações da terra Apocalipse, 17:5. Clamou em alta voz, dizendo: Caiu, caiu Babilônia, a Grande. Tornou-se morada dos demônios, prisão dos espíritos imundos e das aves impuras e abomináveis,..." Apocalipse, 18:2. "Parados ao longe, de medo de seus tormentos, eles dirão: Ai, ai da grande cidade, Babilônia, cidade poderosa! Bastou um momento para tua execução!" Apocalipse, 18:10. "Então um anjo poderoso tomou uma pedra do tamanho de uma grande mó de moinho e lançou-a no mar, dizendo: Com tal ímpeto será precipitada Babilônia, a grande cidade, e jamais será encontrada." Apocalipse, 18:21.
Seria ilógico alegar que estas três referências se refiram à antiga capital do império Babilônico localizado no atual Iraque. Ela era apenas um vilarejo quando estas palavras foram escritas - ela não era mais a "grande cidade". De fato, muitos protestantes reconhecem que a Babilônia pode se referir à Roma, principalmente quando procuram chamar a Igreja Católica Romana de "prostituta da Babilônia". Não pode haver duplo sentido aqui!!!
Assim, por que São Pedro usaria uma palavra codificada para Roma? A resposta é simples: perseguição. As autoridades romanas estavam muito bem informadas do que os protestantes não estão: que Pedro era um líder da Igreja, e a Igreja era considerada uma seita perigosa e subversiva. Por esta razão, Pedro se arriscaria a ser capturado ou morto se se expressasse claramente. Também sabemos que os apóstolos, às vezes, se referiam a cidades através de nomes simbólicos (Apocalipse, 11:8).
Entretanto, esta não é uma evidência explicita e requer um grau de compreensão histórica. É possível (embora não faça sentido) assumir que a palavra Babilônia se refira a outra cidade que não seja Roma. Neste caso, é necessário se recorrer a fontes históricas extra-bíblicas para mostrar que São Pedro esteve, de fato, em Roma.
No Demurrer contra os Hereges (ano 200 da Era Cristã), Tertuliano escreve sobre a cidade de Roma, "Quão feliz é a igreja...onde Pedro viveu uma paixão como aquela do Senhor, (Pedro foi crucificado) onde Paulo foi coroado em uma morte como a de João (se referindo a João Batista, tanto ele como Paulo foram degolados)." É amplamente aceito que São Paulo foi morto em Roma, assim os escritos de Tertuliano parecem ser aceitos como corretos por pelo menos um dos apóstolos! Os escritos de Tertuliano mostram que, já no ano 200 da Era Cristã, existia a tradição de que Pedro esteve em Roma. Se ele não esteve, por que essa crença de que ele esteve?
Tertuliano diz mais tarde no mesmo livro que "esta é a forma que as igrejas apostólicas transmitem suas listas: como a igreja dos Esmirnenses, que registra que Policarpo foi colocado lá por João; como a igreja dos Romanos, onde Clemente foi ordenado por Pedro." Isto se refere ao papa Clemente de Roma, que se tornaria o quarto papa. (Observe que Tertuliano não disse que Pedro consagrou Clemente como papa - uma vez que os papas não consagram seus próprios sucessores - mas ao invés, diz que ele o ordenou como padre, em Roma.)
Quanto a Clemente, este papa escreveu sua Epístola aos Coríntios por volta do ano 70 (ou até antes), não muito tempo após ambos Pedro e Paulo serem martirizados. Na epístola, ele deixa claro que Pedro foi morto na mesma cidade que Paulo - o que, virtualmente, todos concordam que seja Roma.
Inácio de Antioquia, o homem que primeiramente usou as palavras "Igreja Católica" nos seus escritos, diz em sua Epístola aos Romanos (ano 110 da Era Cristã) que ele foi incapaz conduzir os Cristãos Romanos da mesma forma que Pedro e Paulo o fizeram. Fica claro que ele, ou esteve fisicamente presente lá, ou obteve uma posição superior de autoridade.
Nas obras de Irineu contra os Hereges (ano 190 da Era Cristã), lemos que o Evangelho de Mateus foi escrito "enquanto Pedro e Paulo estavam evangelizando em Roma e estabelecendo os fundamentos da Igreja." Mais a frente, ele escreve que Lino foi nomeado como sucessor de Pedro, ou seja, o segundo papa, e os próximos na linha foram Anacleto (também conhecido como Cletus) e, a seguir, Clemente de Roma. Isto mostra que a Igreja primitiva estava muito segura sobre o papa ser o sucessor de São Pedro.
Na virada do terceiro século, Clemente de Alexandria escreveu uma obra chamada Hypotyposes - um fragmento que é preservado na História Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia. Clemente escreve: "Quando Pedro pregou a palavra publicamente em Roma e recitou o evangelho pelo Espírito, muitos que estavam presentes solicitaram a Marcos, que tinha sido por muito tempo companheiro de Pedro, e que se recordava de seus ensinamentos, que escrevesse o que tinha sido proclamado." Não somente isto oferece clara evidência de que Pedro esteve em Roma, mas também a autoria do segundo Evangelho; com o que todos os Cristãos concordam! Se eles aceitam este fato de Clemente, por que não o fato de que Pedro esteve em Roma?
A morte dos perseguidores foi um documento escrito por volta de 318 da Era Cristã por Lactantius. Neste documento se lê que "Quando Nero já estava reinando (Nero reinou de 54-68 da Era Cristã), Pedro veio a Roma, onde, em virtude de certos milagres que ele realizava pelo poder de Deus que lhe havia sido concedido, ele converteu muitos ao caminho da retidão e estabeleceu um firme e duradouro templo de Deus."
E não é somente o que dizem os escritos antigos - é o que eles não dizem que é mais interessante. Não existe um único antigo documento que sugere que Pedro morreu em qualquer outro lugar que não seja Roma - apesar do fato de que muitos outros santos têm diferentes locais atribuídos a seus martírios. Assim como não existe o menor vestígio do túmulo da Bendita Virgem Maria para aqueles que o defendem, este silêncio é uma poderosa testemunha da verdade do simples ensinamento Católico de que São Pedro, de fato, esteve em Roma.
Também existe muita evidência arqueológica de que Pedro viveu em Roma, mas qualquer um que teima em dizer que Pedro nunca esteve lá, a ignorará. Houve uma longa escavação de um tumba na Colina do Vaticano que se prolongou até depois da Segunda Grande Guerra. A tumba continha os ossos de um ancião que morrera por crucifixão, e a própria tumba estava coberta com inscrições que mostravam conclusivamente que, se aqueles não eram os ossos de Pedro, quem quer que o tenha enterrado lá certamente pensava que era Pedro!
O Papa Paulo VI anunciou oficialmente que a tumba do primeiro papa tinha sido conclusivamente identificada e que seus ossos ainda estavam lá - completa com inscrições identificando o lugar da tumba de Pedro, mostrando que os primeiros Católicos sabiam que o líder dos apóstolos foi enterrado ali. Os relatos das atividades arqueológicas e a evidência científica são muito vastos para detalhar aqui, embora estejam intensa e detalhadamente discutidos no livro de Walsh, "Os ossos de São Pedro" sobre João, o Evangelista.
Mas fica claro - a partir de todas as evidências históricas e comprovações científicas - que a crença de que Pedro nunca esteve em Roma simplesmente não é o caso. Mesmo se realmente fosse relevante, com relação à doutrina do Primado Petrino, fica claro que São Pedro viveu - e morreu - na cidade eterna de Roma.
Artigo traduzido por Raimundo Santos
Original em inglês: Peter's Rome Residency
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