sábado, 18 de setembro de 2010

Candidatos exóticos nas eleições denunciam falhas no sistema político brasileiro

Candidatos exóticos nas eleições denunciam falhas no sistema político brasileiro

Artigo traduzido por Raimundo Santos
Original em inglês: BBC - Wachy election candidates reveal problems at heart of Brazil politics

                                                        A previsão é que Francisco Everardo Oliveira Silva receba mais de um milhão de votos

O que faz um deputado federal? Na verdade, eu não sei. Mas vote em mim e eu descubrirei para você."

Este é um dos slogans políticos de um homem que pretende entrar na Câmara Federal do Brasil, a segunda casa do Congresso, nas eleições gerais de 3 de outubro, com o apoio de mais de um milhão de eleitores.

Se a frase se parece mais com uma piada, talvez você não se surpreenda em saber que este candidato é um palhaço profissional.

Francisco Everardo Oliveira Silva, ou Tiririca, como ele é conhecido, começou a trabalhar em circos com a idade de oito anos na região pobre do noroeste do Ceará e, agora, é comediante de TV.

Como Tiririca - dezenas de figuras oriundas do esporte brasileiro e do "showbusiness" popular estão concorrendo a uma das 513 vagas na câmara federal, em companhia de políticos experientes, membros de antigos clãs políticos, bem como outros que são "marinheiros de primeira viagem".

No total, existem mais de 6.000 candidatos de 27 partidos.

Outro candidato que segundo previsão deve vencer com esmagadora margem de votos é o ex jogador de futebol profissional, Romário, herói da conquista da copa do mundo de 1994 pelo Brasil.

Ele está concorrendo a uma vaga para representar sua cidade natal, o Rio de Janeiro, e espera trabalhar para "manter as crianças longe do crack e outras drogas".

"Como criança que cresceu em uma comunidade pobre, me cansei de políticos nos visitar com promessas de melhorias que nunca aconteceram. Percebi que eu tenho de ser aquele que faz as coisas," disse Romário à BBC.

Impacto da mídia social


                      O ex-jogador Romário diz que defenderá os pobres

Enquando a mídia principal foca a corrida presidencial que, provavelmente, já está definida, com a candidata do presidente Lula da Silva, Dilma Rousseff, à frente de seus oponentes nas pesquisas, a "corrida maluca" para o congresso domina a blogoesfera brasileira e os websites de redes sociais.

Os vídeos de Tiririca, por exemplo, já foram visualizados por mais de 3.5 milhões de pessoas no YouTube, e seu nome permaneceu por alguns dias como um dos assuntos em destaque no Twitter.

"No Brasil, todos os candidatos aparecem em horários eleitorais na TV e no rádio. E quando pessoas como o Tiririca aparecem na tela, elas se destacam de outros candidatos "chatos" que, de fato, estão usando seu tempo para apresentar propostas reais", explica Eliane Cantanhede, correspondente política do jornal Folha de São Paulo.

Mas essa não é a única lista de nomes exóticos que disputam as eleições na campanha eleitoral.

"O Brasil tem uma tradição de votar nestes tipos de pessoas, ou porque elas causam uma forte impressão nos mais pobres e nos eleitores desinformados, ou porque elas atraem as pessoas ricas e bem-educadas, que estão cansadas dos políticos e querem protestar", explica Cantanhede.

A forma como a Câmara Federal é formada - por um sistema de representação proporcional aberto - também alimenta a existência de tais candidatos, dizem os analistas.

David Fleisher, professor de ciência política na Universidade de Brasília, explica: "Estas pessoas são promovidas por seus partidos na esperança de que elas consigam votos suficientes para elegerem dois ou três candidatos menos votados."

Alguns partidos estão tão seguros da eficiência do sistema, que até mesmo convidam celebridades a concorrerem nas eleições.

Um exemplo é Suellem Rocha, apelidada de Mulher-Pera - uma modelo e dançarina de 22 anos de idade que disse à BBC que ela aceitou a proposta do Partido Trabalhista Nacional para tentar conseguir uma cadeira em Brasília, onde, segunda ela, espera "lutar em favor dos jovens"

"Estou gostando muito de fazer campanhas nas ruas, e as pessoas que eu encontro dizem que preferem votar em mim do que em candidatos corruptos. Elas me dizem que é hora de trazer renovação ao congresso," relata ela.

"Os cafajestes"


                                                                      Suellem Rocha diz que foi convida pelo Partido Trabalhista Nacional

A corrupção é, de fato, uma das palavras mais associada aos membros do Senado e da Câmara de Deputados.

Pesquisa realizada em 2007 pela G1.com, um website brasileiro líder em notícias, mostrou que já aconteceram pelo menos 20 grandes escândalos de corrupção no Congresso desde que a democracia foi restaurada no Brasil em 1985.

Um dos mais conhecidos foi o "escândalo do mensalão", um suposto esquema de compra de votos envolvendo o Partido dos Trabalhadores do governo Lula e alguns de seus aliados mais íntimos em 2005.

Os acusados renunciaram ou foram expulsos do cargo, mas Lula conseguiu se manter firme e foi reeleito no ano seguinte.

"Se no passado, o Congresso foi crucial na oposição ao regime militar, hoje ele é visto como um local onde "cafajestes" entram para ganhar dinheiro," explica Cantanhede.

Para a analista, este é o resultado do fracasso do Brasil em propor mudanças políticas, diferente do que ele fez na frente econômica: "Devido a natureza centralizadora da administração Lula, e por causa de sua falta de interesse em promover um debate ético, o legislativo brasileiro perdeu seu papel político."

Este poder ainda é responsável por aprovar ou rejeitar leis, assim como controlar o orçamento do executivo.

Entretanto, como explica o professor Fleisher, a existência de comitês de liderança formados por deputados nomeados por seus partidos e aliados, permite que o presidente tenha considerável poder para controlar a agenda do congresso.

Em 3 de outubro, quase 136 milhões de brasileiros também elegerão seus governadores estaduais, deputados estaduais e senadores. O voto é obrigatório no país.

Artigo traduzido por Raimundo Santos
Original em inglês: BBC




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