Um olhar bíblico na Imaculada Conceição da Bendita Virgem Maria
Artigo traduzido por Raimundo Santos
Original em inglês: PatricMadrid.com - A biblical look at the Immaculate Conception of the Blessed Virgin Mary
"A questão é que vocês, Católicos Romanos," disse ele, com o dedo indicador em riste quase tocando meu rosto, "acrescentaram coisas ao evangelho. Como vocês podem se chamar de Cristãos quando estão presos a tradições não-bíblicas como a Imaculada Conceição? Não está na bíblia - isso foi inventado peo sistema Católico Romano em 1854. Além disso, Maria não poderia ser sem pecados, somente Deus é sem pecados. Se ela fosse sem pecados, ela seria Deus!"
Pelo menos o ministro estava certo quanto ao ano de 1854, quando o Papa Pio IX, infalivelmente, definiu a doutrina da Imaculada Conceição. Sua reação é típica entre os protestantes. Ele estava seguro de que a ênfase Católica na imaculada conceição de Maria fosse uma afronta inaceitável à santidade única de Deus, principalmente conforme manifestada em Jesus Cristo.
Após examinarmos a evidência bíblica para a doutrina, o anti-marianismo que tinha mostrado antes se emudeceu, mas estava muito claro que, pelo menos emocionalmente, senão bibicamente, Maria se tornara um pedra no seu sapato.
Como a maioria dos Cristãos (Católicos e protestantes), o ministro desconhecia a fundamentação bíblica para o ensinamento da Igreja sobre a Imaculada Conceição. Mas às vezes, até mesmo o conhecimento destas passagens não é suficiente. Muitos ex-protestantes que se converteram à Igreja Católica relatam como foi difícil para eles deixar preconceitos e abraçar as doutrinas Marianas, mesmo após eles se satisfazerem completamente através de orações e estudos das Escrituras, de que tais ensinamentos eram realmente bíblicos.
Para os protestantes que investigaram este assunto e, surpreendentemeente, descobriram a fundamentação bíblica para as doutrinas Marianas, frequentemente fica a suspeita de que, de alguma forma, em que eles não conseguem compreender, a ênfase Católica na natureza imaculada de Maria prejudica a natureza imaculada de Cristo.
Para amenizar tal pensamento, deve-se procurar compreender o que a Igreja ensina (e o que não ensina) através da doutrina da Imaculada Conceição. O Papa Pio IX, em sua constituição Ineffabilis Deus (publicada em 8 de dezembro de 1854), ensinou que Maria, "a partir do primeiro instante de sua concepção, por um privilégio único e pela graça dada por Deus, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador da humanidade, foi preservada de toda mancha do pecado original." A doutrina inclui a declaração de que Maria foi perpetuamente livre de todo pecado (desobediência voluntária a Deus, tanto venial quanto mortal).
Muitas objeções são levantadas pelos protestantes
Em primeiro lugar, se somente Deus é imaculado, Maria não poderia ser imaculada ou ela teria sido Deus.
Em segundo lugar, se Maria foi imaculada, por que ela diz: "Meu espírito se alegra em Deus meu salvador" (Lucas, 1:47)? Se somente pecadores precisam de um salvador, por que Maria, se fosse imaculada, se incluiria na categoria de pecadores? Se ela fosse imaculada, ela não precisaria de um salvador, e sua declaração em Lucas, 1 seria incoerente.
Em terceiro lugar, Paulo diz, em Romanos, 3:10-12,23: "Não há nenhum justo, não há sequer um, com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus)...
...todos pecaram e perderam a glória de Deus." Em Romanos, 5:12, ele diz: " Por isso, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todo o gênero humano, porque todos pecaram..."
Estes versículos parecem contrariar qualquer possibilidade de que Maria seja imaculada.
A Imaculada Conceição enfatiza quatro verdades: (1) Maria de fato precisou de um salvador; (2) seu salvador foi Jesus Cristo; (3) a salvação de Maria foi realizada por Jesus através de seu sacrifício na Cruz; e (4) Maria foi salva do pecado, mas de uma maneira diferente e mais gloriosa do que todos nós. Consideremos a primeira e mais fácil das três objeções.
A noção de que Deus seja o único ser imaculado é mal interpretada - e até mesmo os protestantes sabem disso. Adão e Eva, antes de pecarem, não tinham pecados e, no entanto, não eram deuses, ainda que a serpente dissesse o contrário. (Deve-se lembrar que Maria não foi o primeiro ser humano imaculado, ainda que ela tenha sido a primeira a ser concebida sem pecado.)
Os anjos no céu não são deuses, mas foram criados sem pecado e assim permaneceram. Os santos no céu não são deuses, embora cada um deles seja completamente sem pecados (Apocalipse, 14:5;21:27).
O segundo e terceiro argumentos estão relacionados. Maria precisava de Jesus como seu salvador. Sua morte na Cruz a salvou, assim como nos salva a nós, mas seus efeitos salvíficos foram aplicados a ela (ao contrário de nós) no momento da sua concepção. (Lembre-se que a Crucificação é um acontecimento eterno e que a apropriação da salvação através da morte de Cristo não pode ser limitada por tempo ou espaço.)
Teólogos medievais desenvolveram uma analogia para explicar como e porque Maria precisava de Jesus como seu salvador. Uma pessoa (cada um de nós) caminha por um caminho na floresta, sem ter noção de que alguns passos à frente tem um enorme buraco. Ela cai no buraco e se enfia na lama (pecado original). Ela grita por ajuda, e seu salvador (o Senhor Jesus) desce uma corda e a iça para a segurança. A pessoa diz ao seu resgatador, "obrigado por me salvar," lembrando as palavras do salmista: "Esperei no Senhor com toda a confiança. Ele se inclinou para mim, ouviu meus brados. Tirou-me de uma fossa mortal, de um charco de lodo; assentou-me os pés numa rocha, firmou os meus passos" (Salmo, 39:2:4).
Uma mulher (Maria), se aproxima do mesmo buraco, mas quando ela começa a cair nele, seu resgatador chega e a impede de cair. Ela exclama, "obrigado por me salvar" (Lucas, 1;47). Como esta mulher, Maria foi salva assim como qualquer outro ser humano. Só que ela foi salva antecipadamente, antes de contrair o pecado original. Cada um de nós foi manchado com o pecado original, mas ela não. Deus odeia o pecado, e esta foi a melhor maneira.
As declarações de Paulo nos capítulos 3 e 5 de Romanos (com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus), não deveriam ser interpretadas literal e universalmente - se assim o forem, teremos contradições irreconciliáveis. Considere Lucas, 1:6. O senso comum nos diz que grupos inteiros de pessoas ficam foram da declaração de Paulo de que "todos pecaram." Crianças abortadas não podem pecar, e nem tampouco criancinhas ou pessoas seriamente afetadas pelo retardamento mental. Mas Paulo não menciona tais exceções óbvias. Ele se referia a adultos em nosso estado de vida.
Se certos grupos de pessoas não são afetados pelo chavão "todos pecaram", então estes versículos não podem ser usados para negarem a Imaculada Conceição de Maria, desde que, também neste caso, ela seria também uma caso excepcional.
Agora vejamos o que a bíblia tem a dizer em favor da posição Católica. É importante reconhecer que nem as palavras "Imaculada Conceição" e nem a fórmula precisa adotada pela Igreja para anunciar esta verdade são encontradas na bíblia. Isto não significa que a doutrina não seja bíblica, somente que a verdade da Imaculada Conceição, como as verdades da Trindade e a união hipostática de Jesus (que Jesus foi incarnado como Deus e homem, possuindo plenamente e simultaneamente duas naturezas, divina e humana, em uma pessoa divina) são mencionados tanto através de outras palavras como de forma indireta.
Observe primeiramente duas passagens em Lucas, 1, versículo 28, o anjo Gabriel saúda Maria como "Kecharitomene" (cheia e graça" ou muito favorecida"). Este é o reconhecimento de seu estado imaculado. No versículo 42, Isabel cumprimenta Maria como "bendita entre as mulheres." O significado original desta frase se perde na tradução ao inglês (ou qualquer outra língua moderna). Desde que nem o hebraico e nem o aramaico possuem superlativos (o/a melhor, o/a mais alto/a, o/a maior, o/a mais santo/a, etc), um falante destas línguas diria: "Você é alto entre os homens" ou "Você é rico entre o homens", querendo expressar: "Você é o mais alto" ou "Você é o mais rico." As palavras de Isabel significam que Maria era a mais santa de todas as mulheres.
A Igreja compreende que Maria como o cumprimento de três tipos do Antigo Testamento: o cosmos, Eva, e a arca da aliança. Um tipo é uma pessoa, evento, ou coisa no Antigo Testamento que prefigura ou simboliza algum fato futuro que Deus nos traz. (Veja os versículos para tipos do Antigo Testamento e no Novo Testamento: Col. 2;17; Heb. 1:1, 9:9, 9:24, 10:1, 1Cor. 15:45-49; Gal. 4:24-25).
Alguns exemplos específicos: Adão foi um tipo de Cristo (Romanos, 5:14); a Arca de Noé e o Dilúvio foram tipos da Igreja e do batismo (1Pedro, 3:19-21); Moisés, que retirou Israel do jugo da escravidão no Egito, foi um tipo de Cristo, que nos salva do jugo da escravidão do pecado e da morte; a circuncisão simbolizava o batismo; o cordeiro pascal, no Êxodo, 12:21-28 foi um símbolo de Jesus, o Cordeiro de Deus, que foi morto na Cruz para salvar os pecadores. O ponto importante a entender sobre um tipo é que seu cumprimento é sempre mais glorioso, mais profundo, mais "verdadeiro" do que somente o tipo.
A Imaculada Conceição de Maria é prefigurada em Gênesis, 1, onde Deus cria o universo em um estado imaculado, livre de qualquer mancha ou traço do pecado ou imperfeição. Isto é comprovado pela repetição mencionada em Gênesis, 1 de Deus contemplando sua criação e dizendo que "era muito boa." Da matéria imaculada o Senhor criou Adão, o primeiro ser humano imaculado criado, criando-o a partir do "ventre" da terra. Os elementos imaculados dos quais o primeiro Adão recebeu sua subistãncia prefigurou o outro estado imaculado de quem o segundo Adão (Romanos, 5:14) tomou sua substância humana.
A segunda prefiguração de Maria é Eva, a mãe física de nossa raça, assim como Maria é nossa mãe espiritual através de nossa pertença ao Corpo de Cristo (Apocalipse, 12:17). O que Eva causou pela desobediência e falta e fé (Gênesis, 3), Maria corrigiu através da fé e obediência (Lucas, 1;38).
Lemos uma declaração crucial em Gênesis, 3:15: "Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu ferirás o calcanhar.” Esta passagem é especialmente significativa no que se refere à "descendência da mulher", um uso singular. A bíblia, seguindo a bilogia padrão, por outro lado, se refere apenas à descendência do homem, a descendência do pai, mas nunca à descendência da mulher. Quem é a mulher mencionada aqui? A única possibilidade é Maria, a única mulher a dar à luz uma criança sem participação humana de um pai, um acontecimento profetizado em Isaias, 7:14.
Se Maria não fosse completamente sem pecado, esta profecia não faria sentido. Por que acontece isto? A passagem aponta para a Imaculada Conceição de Maria porque ela mencion uma total inimizade entre a mulher e Satã. Tal inimizade seria impossível se Maria fosse manchada pelo pecado, original ou real (leia 2 Coríntios, 6:14). Esta linha de pensamento elimina exclui Eva como a mulher, uma vez que ela claramente estava sob a influência de Satã no Gênesis, 3.
O terceiro e mais significativo tipo da Imaculada Conceição de Maria é a arca da aliança. No Êxodo, 20, Moisés recebe os Dez Mandamentos. Nos capítulos 25 até o 30, o Senhor dá a Moisés um plano detalhado para a construção da arca, o artefato especial que levaria os Mandamentos. O surpreendente é que cinco capítulos adiante, começando no capítulo 35 e continuando até o capítulo 40, Moisés repete palavra por palavra os detalhes da construção da arca.
Por que? Era uma forma de enfatizar o quanto importante seguir as especificações exatas do Senhor (Ex. 25:9,39:42-43). Deus queria que a arca fosse o mais humanamente perfeita possível para que tivesse a honra de conter a Palavra escrita de Deus. Quanto mais Deus faria por Maria, a arca da nova aliança, para ser perfeita e imaculada uma vez que levaria no seu seio a Palavra de Deus incarnado.
Quando a construção da arca foi terminada, a núvem cobriu a tenda de reunião e a glória do Senhor encheu o lugar. Moisés não poderia entrar na tenda de reunião, porque a núvem cobriu-a e a glória do Senhor encheu o tabernáculo" (Êx. 40:34-38). Compare esta passagem com as palavras do anjo Gabriel à Maria, em Lucas, 1:35.
Existe outra prefiguração de Maria como a nova arca da aliança em 2 Samuel, 6. Os Israelitas tinham perdido a arca na batalha com seus inimigos, os Filisteus, e tinham recentemente a recuperado. O Rei Davi vê a arca ser trazida a ele e, regozijando-se, diz: "Como entrará a arca do Senhor em minha casa?" (1 Sam. 6:9).
Compare esta passagem com as palavras quase idênticas de Isabel em Lucas, 1:43. Assim como Davi saltitou de alegria diante da arca quando ela foi trazida à Jerusalém (2 Sam. 6:14-16), da mesma forma João Batista saltitou de alegria no ventre de Isabel quando Maria, a arca da nova aliança veio a sua presença (Lucas, 1;44). O regozijo de João foi exatamente pela mesma razão que o de Davi - não exatamente somente pela arca, mas pelo que estava contido na arca, a Palavra de Deus.
Outro paralelo pode ser encontrado em 2 Samuel, 6:10-12, onde lemos que Davi ordenou que a arca fosse levada até às colinas da Judéia para permanecer na casa de Obededom por três meses. Este se relaciona aos três meses de visitação de Maria à casa de Isabel nas colinas da Judéia (Lucas, 1;39-45,65). Enquanto a arca permaneceu na casa de Obededom, ela "abençoou todos da sua casa." Esta é uma forma usada no Antigo Testamento para dizer que a fertilidade das mulheres, colheitas e o gado eram aumentados. Repare que Deus realizou o mesmo milagre para Isabel e Zacarias, já em idades avançadas, como um prelúdio a um milagre maior que Ele realizaria em Maria.
A imagem Maria/arca aparece novamente no Apocalipse, 11:19 e '2:1-17, onde ela é chamada de mãe de todos "aqueles que guardam os mandamentos de Deus e são testemunhas de Jesus" (versículo 17). O simbolismo da arca encontrado em Lucas, 1 e Apocalipse, 1 e 12, não foi esquecido pelos primeiros Cristãos. Eles perceberam o paralelo entre a descriação da arca no Antigo Testamento e a discussão do Novo Testamento sobre o papel desempenhado por Maria.
Embora nenhum destes versículos comprovem a "Imaculada Conceição de Maria, todos eles apontam para esta direção. Além disso, em nenhum lugar da bíblia se lê que Maria tenha cometido algum pecado ou fraquejado pelo pecado original. Com relação a declarações explícitas, a bíblia silencia em muitas questões, embora toda a evidência bíblica suporte o ensinamento Católico.
Uma última reflexão. Se pudéssemos criar nossa própria mãe, não a teríamos criado a mais bela, a mais virtuosa, a mais perfeita mulher? Jesus, sendo Deus, de fato criou sua própira mãe (Col. 16; Heb. 1:2), e Ele a fez assim - Ele criou-a imaculada e, em Sua misericórdia e bondade, a preservou assim.
Artigo traduzido por Raimundo Santos
Original em inglês: Mary, Ark of the New Covenant - PatrickMadrid.com - A biblical look at the Immaculate Conception of the Blessed Virgin Mary
Mary, Ark of the New Covenant - A biblical look at the Immaculate Conception of the Blessed Virgin Mary
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