segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Tradição Oral Judaica

                                         A Tradição Oral Judaica



Artigo traduzido por Raimundo Santos

Original em inglês: The Oral Law


A Lei Escrita é outro nome da Torá. A Lei Oral é um comentário legítimo da Torá, explicando como seus preceitos devem ser conduzidos. É de conhecimento de todos que algumas partes da tradição oral eram sempre necessárias para acompanhar a Lei Escrita, pois a Torá sozinha, mesmo com seus 613 preceitos, é um guia insuficiente para a vida judaica. Por exemplo, o quarto mandamento ordena: “Lembra de guardar o dia de Sábado” (Êxodo, 20:8). A partir da inclusão do Sábado nos Dez Mandamentos, fica claro que a Torá o considera como um importante dia de guarda. De fato, quando alguém observa leis bíblicas específicas instruindo como guardar o dia, encontram-se apenas injunções contra acender fogo, afastar-se de sua residência, cortar uma árvore, arar a terra, plantar e colher. Apenas seguindo estas determinações se estaria cumprindo os ensinamentos bíblicos com relação ao Sábado? De fato, os rituais Sabáticos que são mais associados com o santo acendimento de velas, a recitação do Kiddush, e a leitura da passagem semanal da Torá não são encontradas na Torá, mas na Lei Oral.

A Torá também silencia com relação a muitos importantes assuntos. Compreendemos que a maioria dos casais desejariam que suas cerimônias de casamento fossem religiosas, mas a Torá não diz nada sobre uma cerimônia de casamento. Certamente que a Torá ensina que as pessoas devam se casar – “Assim, o homem deixará sua mãe e seu pai e se juntará a sua esposa e serão uma só carne” (Gênesis, 2:24) – mas em nenhum lugar da Torá é mencionada uma cerimônia de casamento. Somente na Lei Oral encontramos detalhes em como realizar um casamento judaico.

Sem uma tradição oral, algumas das Leis da Torá seriam incompreensíveis. No primeiro parágrafo da Shema, a bíblia instrui: “Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração.Tu os inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares. Atá-los-ás à tua mão como sinal, e os levarás como uma faixa frontal diante dos teus olhos.” Deuteronômio, 6:6-8

“Atá-los-ás à tua mão como sinal,” instrui o último versículo. Atar o que? A Torá não diz. “E os levará como uma faixa frontal diante dos teus olhos.” “O que são faixas frontais”? A palavra hebraica para “faixa frontal”, “totafot” é utilizada três vezes na Torá – sempre neste contexto (Êxodo, 13:16; Deuteronômio, 6:8, 11:18) – e é tão obscura quanto ela é em inglês, português e outras línguas modernas. Somente na Tradição Oral poderemos saber e o que um homem judeu ataria na mão e diante dos olhos são os “tefilins” (filactérios)

Finalmente, uma Tradição Oral foi necessária para mitigar certas leis categóricas da Torá que poderiam ter causado graves problemas se fosse interpretada literalmente. A Lei Escrita, por exemplo, exige “olho por olho” (Êxodo, 21:24). Isso implicaria que se uma pessoa, acidentalmente, cegasse outra, esta seria também cegada como reparação? Este parece ser o desejo da Torá. Mas a Lei Oral explica que o versículo deve ser compreendido como a exigência de uma compensação financeira: o valor de um olho é o que deve ser pago.

Por estas três razões - sempre foi necessária a Lei Oral devido a freqüente falta de detalhes na legislação da Torá, a incompreensibilidade de alguns termos na Torá, e as objeções de se seguir, literalmente, algumas leis da Torá.

Estranhamente, a Lei Oral, hoje, é uma lei escrita codificada na Mishna e no Talmud. O judaísmo Ortodoxo acredita que a maioria das tradições orais registradas nestes datam da época da revelação de Deus a Moisés no Monte Sinai. Segundo ensina a Ortodoxia, quando Deus deu a Moisés a Torá, simultaneamente, Ele o proveu de todos os detalhes encontrados na Lei Oral. Acredita-se que Moisés, subsequentemente, transmitiu a Lei Oral ao seu sucessor Josué, que a transmitiu ao seu sucessor, em uma sucessão que ainda continua (Ethics of the Fathers 1:1)

Com essa sucessão de autoridade, alguém poderia perguntar por que a Mishna e o Talmud são recheados de debates entre rabinos; não deveriam todos eles terem sido receptores da mesma inequívoca tradição? Mestres ortodoxos respondem que os debates surgiram, ou porque os estudantes se esqueceram de alguns detalhes transmitidos por seus mestres, ou porque a Lei Oral não tem ensinamento específico sobre a questão sendo debatida.

Enquanto o Judaísmo Reformador e o Conservador também acreditam que parte da Lei Oral fosse sempre necessária para tornar a Torá compreensível e realizável, eles rejeitam a crença de que a maior parte do Talmud tenha origem à época de Moisés. Eles estão mais voltados a entenderem o Talmud e a Lei Oral como um sistema evolutivo, em que sucessivas gerações de rabinos discutiram e debateram como incorporar a Torá em suas vidas. Assim, eles se sentem mais livres do que os Ortodoxos para ignorar, modificar, ou alterar a Lei Oral.

Os diferentes pontos-de-vista do Judaísmo Conservador e Reformador, tanto na natureza restritiva e antiga da Lei Oral, são talvez, uma das maiores questões que os divide.


Artigo Traduzido por Raimundo Santos

Original em inglês: The Oral Law




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