terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tiririca na fita: Sistema Político Brasileiro é motivo de chacota mundial

Artigo traduzido por Raimundo Santos
Original em inglês: The Economist - Grumpy on the stump


ESTOU TENTANDO entender estas eleições. Não é somente o tamanho do eleitorado (135 milhões de pessoas) ou o território (8.5 m de kilômetros quadrados, divididos em 5.365 municípios). Trata-se do número e variedade de candidatos e postos a serem preenchidos. A corrida para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a mais importante e notória. Mas os brasileiros estão também escolhendo governadores, senadores e deputados federais e estaduais. No total, 364.094 candidatos de 27 partidos políticos estão concorrendo nas eleições.

Os próprios brasileiros podem achar tudo isso muito confuso. Para ajudar os eleitores a navegarem no sistema - particularmente 10% do eleitorado analfabeto - todos os candidatos são identificados por nome, fotografia e número, cujos primeiros dígitos indicam o partido. De acordo com a lei eleitoral brasileira todos os candidatos têm direito à propagando eleitora gratuita na TV, sendo que o tempo de cada um é determinado pelo tamanho do partido. Os candidato de partidos pequenos, ou micro-partidos, aparecem por apenas alguns segundos, suficiente apenas para que divulguem seus nomes e números muito rapidamente.

Na veiculação destas informações, candidatos conhecidos tiram grande proveito da situação. Ex- jogadores se saem muito bem: Romário, o herói da Copa do Mundo de 1994, está concorrendo a uma vaga na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro e deverá ser eleito facilmente. Em São Paulo, Suellen Rocha, a jovem de 23 anos de idade, conhecida como "mulher pera", concorre ao cargo de deputada e é uma atração. Também em São Paulo, Tiririca, cantor e palhaço, autor de um hit popular alguns anos atrás, deve conquistar 1 milhão de votos. Seu slogan: "O que faz um deputado federal? Na verdade, eu não sei. Mas vote em mim e eu contarei a você."

Não somente é provável que o Tiririca consiga mais votos do que qualquer outro concorrente à Câmara Federal nas estranhas regras eleitorais brasileiras, mas também elegerá mais quatro ou cinco deputados com ele. Embora os votos sejam dados individualmente, os canditados à Câmara Federal que são eleitos com grande soma de votos passam este excesso a outros candidatos do mesmo partido, ou até mesmo a políticos de outros partidos da mesma coligação. Mesmo que tais candidatos recebam apenas algumas dezenas de votos, eles substituem os rivais que foram muito mais votados. Trata-se de um sistema corrupto e corruptor: os partidos fazem uso de "figuras populares"  para que concorram a cargos políticos em favor deles.

Como estrangeiro, não posso votar. É uma vergonha, pois eu realmente gostaria de testar uma das 462.000 vistosas maquininhas de votaçao, do tamanho de uma caixa registradora, que juntas, constituem o mais avançado sistema de votação eletrônica do mundo. Elas foram introduzidas não somente para tornar mais fácil a votação nesta complexa, multi-facetada democracia, mas também para impedir a possibilidade de corrupção com as urnas tradicionais. Neste ano, será testado o uso da biometria para identificar os eleitores. Infelizmente, eles não conseguem resolver casos simples de corrupção: as pessoas ainda podem vender seus votos, e até mesmo um candidato eleito com a tecnologia mais moderna pode de tornar um ladrão no poder.

As maquininhas fariam sucesso em qualquer parte; neste vasto, caótico país elas são fantásticas. Por causa delas todos os resultados devem ser conhecidos 24 horas após o encerramento das eleições. Por um lado, é muito triste: esta maravilhosa tecnologia...E um milhão de pessoas vão utilizá-la para votar em Tiririca.


Artigo traduzido por Raimundo Santos
Original em inglês: The Economist

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